terça-feira, 4 de setembro de 2012

Cinzento

Tão certamente em incertezas me deito
como vagarosamente as percorro em sonhos...
Sem querer sentir, alimentei-te!
Sem querer fugir atei-te.
Percorri em rusga,
entre selva e flora adomecida,
pavões que se esplendecem e aves que migram,
águas perdidas nas contas de pedra que já tocaram.
Ousava sentir as nuvens de perto
Percorri.
Agora onde me encontro?
Desencontrado, claro.
Escuro ainda é o que virá,
tão certamente como a mudança certa,
certo como o charco onde apetece saltar.
Errado, é sorte, é o que vier.
E quando o fim,
vulgo aquele momento de vida em que tudo se encontra,
em que tudo se desfila em montra,
onde medidas, tamanho e até preço são indicados,
temperatura, arte de engoma e demais cuidados,
e quando o fim!
E se ele próprio não acaba?
Para longe ele me levava...
sempre...oculto, nada.
Chantagista. Matreiro.
Mesquinho. Sorrateiro.
Mastigar como quem se passeia em nevoeiro,
sem saber ser dele a vez do coveiro.
Porque não acabas, fim.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Ode ao que não se sabe

Oh mística neblina de pedras e de sal
Oh vento fugidio impalpável e desleal
Que montras nos mostras nas entranhas do fulgor
Que céu luzidio espelha o teu esplendor
São mortes devidas do espectro sem fim
São noites perdidas, sombras em mim!

Hua dúvida nos fascina
em divina salabridade que minh'alma,
Perplexa e perdida,
procura na tua voz, rouca e fina.
Canta para meu ser mesquinho e frágil
Deixa que este meu parecer se torne forte e ágil.
Agita-me a monotonia do teu esperar
Palpitam-me os ventrículos, começo a ofegar
Tua calma afaga o meu pudor
Será que no fim de tudo espera-me o amor?
Sendo nós imortais
qual seria o fim da vida?
Procuraríamos ser mortais, procuraríamos sentir a ferida
Quem não sente não vive
Arrasta-se com os ponteiros das rodas do tempo
Cala-se e finge que caminha
Ri-se em triste e só fingimento.

E pergunto-me, de que vale tão pouco o muito esperar,
Que me valem as incertezas do teu olhar
E vôo, canto, corro, fujo,
divago, deambulo, procuro refúgio
Mas nesta corrida de fim sem destinar
Na triste ironia do tempo a passar
No fim de tudo e todo o fim
Encontrar-te-ei sentada, a sorrir para mim.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Viagem

Nos vagões vazando vagamente
Seguindo a linha de trem encarcerado
Olho em redor, observo gente!
Noto e receio o seu ar fatigado.

Tão grande aglomerado
Todos com o mesmo objectivo:
Chegar ao seu lado,
Chegar ao seu abrigo.

O conforto nos basta para reconfortar
As gramas de alma que o tempo nos comprou.
Sabe-se apenas que um dia ao acabar
Tudo o que resta será de alguém que o sonhou.

E que imaginário é este
Tão livre e simplesmente confinado.
Que liberdade é esta
Quando a chave está do outro lado?

Da sineta nos é oferecida
A corda gasta e rompida.
Vibra, ressoa e entoa!
Vai, nada disto é meu. Voa...

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Hoje inclinei-me para abraçar o luar
Mas reparei que já era dia e fiquei a olhar
Atrasei-me, perdi-me no sono
Desleixei-me...está a ficar morno
Que fizeste tu tempo que marcaste e acabaste
Que me plantaste e arrancaste
O prazer de sentir as horas a fugir
ver o rodar dos ponteiros e sorrir
O luar em neblina
É agora o que me fascina
Ver tanta pouca luz e ser tão pouco
Ser perdido e querer estar rouco
não fará isto de mim...um louco?

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Hoje acordei cedo
Despertei-me pelo Luar
Olhei pelas trevas sem medo!
Quem me está a chamar?

Por dias esqueci o tempo
Decidi olhar contemplar-me
Corre para a foz meu alento
Soa retumbante o alarme

Cadente é a estrela que passa
Pelo cosmos que nos fascina.
Cintilante é a morte que traça
Quem de triste ser tem sua sina!

No último fim, Apagado
Está aquele que ousou trapacear.
Desvia o olhar magoado!
Quem és tu que quiseste sonhar?

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Crer

Tudo vale a pena quando o quê?

Defeito de quem escreve ou de quem lê?

Imaginar lágrimas que não caem por querer

Sentir vontade quando se parece não a ter

Não é de comodidades!

Não é de incerteza!

É de ser mesquinha nossa natureza.

Egoísmos e ferramentas

Não consegues, para que tentas?

É fado nosso destino

Ou é de escolha o caminho?

Convenhamos que amar até dá jeito

Procurar o ideal, o perfeito…

Ouvi que assim era melhor

Já te conheço as manhas…sei-te de cor!

Até te entendo, sei-te bem

Mas isto que eu faço não lembra a ninguém

Ao lado ama-se, ama-se de verdade!

Mas existe sempre mais alguém que nos quebra a vontade

Apetece chorar…imaginação já não chega…

Alcoolizam-se os sentimentos,

Embriaguez azeda

Névoa de cigarrilha que para trás se deixa…

Amar já não dá…toda a gente se queixa

Qual o nosso problema?

O drama de estar consciente!

Que somos nós quem cá está,

Que temos de continuar normalmente

Nada é irreal…o que o é não sai de nós

Por mais que me esforce

As lágrimas não escorrem

Por mais que me coce não sai de mim…

Tenho dois corações

Um para amar…o outro para quando calhar…

Não adianta enganar

Ainda não aprendi a lição…

Mas basta-me achar

Que Às vezes tem de ser não!

Sonhar….

Ter o consolo da manhã perpétua…

O sol sempre a nascer

A vida sempre a começar…

Mas no crepúsculo desvanece-se a esperança,

Tudo foge tudo cansa.

O dia é dia por inteiro

É dia e noite completo e verdadeiro!

O Mundo não muda nos sonhos

Os sonhos mudam o Mundo!

Talvez quem escreva ainda tenha razão.

Todos os dias tentar

Por mais curta que seja a estrada

Por mais difícil que apeteça nada.

Dar ainda dá

Amar ainda está.

Ora o rio deseja a calma de desaguar

E nós assim o somos para esperar…

Pedir quando cansados

É como a filosofia dos arados:

Rasgar a terra para que volte a ser coberta!

É plantar colheita incerta…

Pedir a Deus não adianta

Nem quem reza nem quem canta…

Porque Deus é para todos

Não adianta criar falsos engodos

O acreditar não é um negócio

Deus não é teu sócio!

Levai os espectros da hipocrisia

Fazei-me mudar isto tudo…um dia!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Anonas, Líchias

São todas delícias

Mas há um amargar

de senciência invulgar

Que todos pudemos experimentar

Azeda é alma

Tão acre que não acalma

Tão fria que nem arrefece

Tudo estranho acontece

E são delírios

E horas fatídicas

E são cópias iguais

De uma vida empírica

Em que nós todos animais

Não sabemos é quais

Nos devemos cuidar

Mas a vida não é feita de dragões

Fadas e ilusões

É o doce abismo

Do oportuno olhar

Olha, vê

Não vale a pena, para quê?

Arrependimentos não fazem os momentos

Momentos fazem arrependimentos

Momentos de tristeza

De animal abandonado

De ser solitário...

Coitado, pobre coitado...

Porquê ser a oitava cor do arco-íris se só existem sete?

Tentar ser farol onde lado nenhum nos remete

E ainda assim não conseguir estar

Não deturpar não lacerar um fulgurante vislumbre

Uma dor de lume

Chorar na alma o que na vida nos atormenta

Fazer do combater a nossa ferramenta

O sol não nasceu? paciência.

A lua não brilha? paciência.

Mas não é esta a mesma luz que os dois astros alimenta?

Talvez ainda seja fácil ter esperança

Talvez não

Talvez ainda possamos caminhar despreocupados

Talvez não

Talvez haja maneira de ter nova ideia

Talvez não

Mas talvez será a história

De uma palavra sem glória

Que de dúvidas e incertezas nasce

Que tanta gente fez já querer se cruzasse

Mas talvez não será mais

Talvez ainda não seja tarde de mais