terça-feira, 22 de novembro de 2011

Viagem

Nos vagões vazando vagamente
Seguindo a linha de trem encarcerado
Olho em redor, observo gente!
Noto e receio o seu ar fatigado.

Tão grande aglomerado
Todos com o mesmo objectivo:
Chegar ao seu lado,
Chegar ao seu abrigo.

O conforto nos basta para reconfortar
As gramas de alma que o tempo nos comprou.
Sabe-se apenas que um dia ao acabar
Tudo o que resta será de alguém que o sonhou.

E que imaginário é este
Tão livre e simplesmente confinado.
Que liberdade é esta
Quando a chave está do outro lado?

Da sineta nos é oferecida
A corda gasta e rompida.
Vibra, ressoa e entoa!
Vai, nada disto é meu. Voa...

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Hoje inclinei-me para abraçar o luar
Mas reparei que já era dia e fiquei a olhar
Atrasei-me, perdi-me no sono
Desleixei-me...está a ficar morno
Que fizeste tu tempo que marcaste e acabaste
Que me plantaste e arrancaste
O prazer de sentir as horas a fugir
ver o rodar dos ponteiros e sorrir
O luar em neblina
É agora o que me fascina
Ver tanta pouca luz e ser tão pouco
Ser perdido e querer estar rouco
não fará isto de mim...um louco?

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Hoje acordei cedo
Despertei-me pelo Luar
Olhei pelas trevas sem medo!
Quem me está a chamar?

Por dias esqueci o tempo
Decidi olhar contemplar-me
Corre para a foz meu alento
Soa retumbante o alarme

Cadente é a estrela que passa
Pelo cosmos que nos fascina.
Cintilante é a morte que traça
Quem de triste ser tem sua sina!

No último fim, Apagado
Está aquele que ousou trapacear.
Desvia o olhar magoado!
Quem és tu que quiseste sonhar?

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Crer

Tudo vale a pena quando o quê?

Defeito de quem escreve ou de quem lê?

Imaginar lágrimas que não caem por querer

Sentir vontade quando se parece não a ter

Não é de comodidades!

Não é de incerteza!

É de ser mesquinha nossa natureza.

Egoísmos e ferramentas

Não consegues, para que tentas?

É fado nosso destino

Ou é de escolha o caminho?

Convenhamos que amar até dá jeito

Procurar o ideal, o perfeito…

Ouvi que assim era melhor

Já te conheço as manhas…sei-te de cor!

Até te entendo, sei-te bem

Mas isto que eu faço não lembra a ninguém

Ao lado ama-se, ama-se de verdade!

Mas existe sempre mais alguém que nos quebra a vontade

Apetece chorar…imaginação já não chega…

Alcoolizam-se os sentimentos,

Embriaguez azeda

Névoa de cigarrilha que para trás se deixa…

Amar já não dá…toda a gente se queixa

Qual o nosso problema?

O drama de estar consciente!

Que somos nós quem cá está,

Que temos de continuar normalmente

Nada é irreal…o que o é não sai de nós

Por mais que me esforce

As lágrimas não escorrem

Por mais que me coce não sai de mim…

Tenho dois corações

Um para amar…o outro para quando calhar…

Não adianta enganar

Ainda não aprendi a lição…

Mas basta-me achar

Que Às vezes tem de ser não!

Sonhar….

Ter o consolo da manhã perpétua…

O sol sempre a nascer

A vida sempre a começar…

Mas no crepúsculo desvanece-se a esperança,

Tudo foge tudo cansa.

O dia é dia por inteiro

É dia e noite completo e verdadeiro!

O Mundo não muda nos sonhos

Os sonhos mudam o Mundo!

Talvez quem escreva ainda tenha razão.

Todos os dias tentar

Por mais curta que seja a estrada

Por mais difícil que apeteça nada.

Dar ainda dá

Amar ainda está.

Ora o rio deseja a calma de desaguar

E nós assim o somos para esperar…

Pedir quando cansados

É como a filosofia dos arados:

Rasgar a terra para que volte a ser coberta!

É plantar colheita incerta…

Pedir a Deus não adianta

Nem quem reza nem quem canta…

Porque Deus é para todos

Não adianta criar falsos engodos

O acreditar não é um negócio

Deus não é teu sócio!

Levai os espectros da hipocrisia

Fazei-me mudar isto tudo…um dia!

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Anonas, Líchias

São todas delícias

Mas há um amargar

de senciência invulgar

Que todos pudemos experimentar

Azeda é alma

Tão acre que não acalma

Tão fria que nem arrefece

Tudo estranho acontece

E são delírios

E horas fatídicas

E são cópias iguais

De uma vida empírica

Em que nós todos animais

Não sabemos é quais

Nos devemos cuidar

Mas a vida não é feita de dragões

Fadas e ilusões

É o doce abismo

Do oportuno olhar

Olha, vê

Não vale a pena, para quê?

Arrependimentos não fazem os momentos

Momentos fazem arrependimentos

Momentos de tristeza

De animal abandonado

De ser solitário...

Coitado, pobre coitado...

Porquê ser a oitava cor do arco-íris se só existem sete?

Tentar ser farol onde lado nenhum nos remete

E ainda assim não conseguir estar

Não deturpar não lacerar um fulgurante vislumbre

Uma dor de lume

Chorar na alma o que na vida nos atormenta

Fazer do combater a nossa ferramenta

O sol não nasceu? paciência.

A lua não brilha? paciência.

Mas não é esta a mesma luz que os dois astros alimenta?

Talvez ainda seja fácil ter esperança

Talvez não

Talvez ainda possamos caminhar despreocupados

Talvez não

Talvez haja maneira de ter nova ideia

Talvez não

Mas talvez será a história

De uma palavra sem glória

Que de dúvidas e incertezas nasce

Que tanta gente fez já querer se cruzasse

Mas talvez não será mais

Talvez ainda não seja tarde de mais


Falemos das árvores

que não têm pensamentos

De onde virão seus preciosos rebentos?

Uns dirão foi Deus a pensar

Outros a natureza, se calhar

Mas nunca pensar foi sua vontade

E crescem raízes, ergue-se o tronco e folheia-se a sombra

E tudo mexe, tudo cresce,

até que tudo tomba

Será do seu tempo

tão pesar tombar?

Ou foi a árvore a pensar?

Para quê ser-se árvore

Quando nas colunas de terra males estão

Quando nos céus doiram grãos de sol

E tudo o que é resume-se ao seco estar

De um Mundo fitar

Sem nenhuma compreensão

Vale a pena ser árvore?

Vales são profundos e o valer uma negação

Mostrar-se sem pudores

Sem desdenhar piores

Sulcos do coração

E tudo vem e tudo vai

Tudo seria se se quisesse

Tudo um dia se eu fizesse

São todos folhas

São todos côdeas do mesmo pão

Todos sim e todos não

Mas nunca árvores...

Pois estroina não é sua forma

Pois sensata é sua norma

E nós quem somos

nós que pomos

humilde fingir

Em modesta oportunidade...

Quem seremos nós de verdade?

Árvores não.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Parvo que sou

Como as tais trepadeiras despropositadas

Tudo é fingido e tudo é verdade

Tudo como dados da sorte

Tudo como claridade

E eis que vem

O que não devia vir

O aparecer de algo

O surgir

Outra verdade

Outro acontecimento

A justiça, o seu estabelecimento

Tão contente que estou, que não cabe meu contentamento

E continuo por aí

Em ironia rodoviária

Qual estrada que não leva a nenhum sítio, nada

É uma viagem diária

De bom samaritano

Ser Homem é ser insatisfeito,

É ser Humano

Por mais que o tempo mude

Não muda o que devia mudar

Nem para o bem de uns

Nem de outros, para variar

E dizem que sim

Como quem diz que não

Mentir por aí

Afirmando ter razão

E são crises e são unhas

E são vontades nenhumas

Tudo é despropósito

No atestar de um depósito

Falar sob as nuvens

De uma luz nunca vista

Dizer que ela é nossa

Ela é nossa conquista

Mas de nada é feito nada

E viver ao desalento

É dizer que não existe tempo

Deambular por aí

Pelas vielas da mediocridade

E dizer que sim, dizer que não

Dizer à vontade

Que são outras as certezas

É outro o coração

E daqui resulta

A nova oração:

Não é nossa...a culpa

Oh Fogo, castelo de areia em mim...manhã de inverno de curto seu raiar, gélido meu querer de tão vão que chega a nem ser...e saber que és...que prevês e realizas, qual o teu fim da chuva irmão, o fundo duro, o suave chão...sólida ciência teu surgir que nem na demência nos consegue impedir de procurar e te achar.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Música de dó eterno, teu existir nosso éter, nosso sentir inexistente em ti sempre presente...Só tu nos compreendes, quanto de nós entendes, saber de nós o que pretendes quando somente tu bastas... És calor sem sol, despoletas em nós mais do que ardente vontade, transformas e renovas, tu não tens idade. A nós as lágrimas nos dás, brotar de água tão ambíguo, quer de alegria quer de tristeza quer do poder sonhar contigo. És despreocupação com razão, pois para tudo tu serves, para nos calar ou fazer gritar, acreditar e jurar, sim, tudo isto consegues.
Que é querer e não poder...pensar que um dia são duas palavras...Fazes-me suspirar, arrebatas-me de mim...pensar que um dia seria assim e assim...Insignificância reduzida a pó, redundância até ao dó...ânsia de um dia, sim, um dia, tudo deixe de ser palavras, tudo seja um acorde de aurora, pára hora, pára e vê, conta tu por nós... escravos de sua criação, tempo que mudas, muda-te a ti...carrega o fardo pesado dos ponteiros, não me interesso por ti, não aos teus devaneios...Eu ouço e penso, uma vez, talvez uma última vez...que um dia a hora vai, tempo muda, eu fico e não estou só.