Anonas, Líchias
São todas delícias
Mas há um amargar
de senciência invulgar
Que todos pudemos experimentar
Azeda é alma
Tão acre que não acalma
Tão fria que nem arrefece
Tudo estranho acontece
E são delírios
E horas fatídicas
E são cópias iguais
De uma vida empírica
Em que nós todos animais
Não sabemos é quais
Nos devemos cuidar
Mas a vida não é feita de dragões
Fadas e ilusões
É o doce abismo
Do oportuno olhar
Olha, vê
Não vale a pena, para quê?
Arrependimentos não fazem os momentos
Momentos fazem arrependimentos
Momentos de tristeza
De animal abandonado
De ser solitário...
Coitado, pobre coitado...
Porquê ser a oitava cor do arco-íris se só existem sete?
Tentar ser farol onde lado nenhum nos remete
E ainda assim não conseguir estar
Não deturpar não lacerar um fulgurante vislumbre
Uma dor de lume
Chorar na alma o que na vida nos atormenta
Fazer do combater a nossa ferramenta
O sol não nasceu? paciência.
A lua não brilha? paciência.
Mas não é esta a mesma luz que os dois astros alimenta?
Talvez ainda seja fácil ter esperança
Talvez não
Talvez ainda possamos caminhar despreocupados
Talvez não
Talvez haja maneira de ter nova ideia
Talvez não
Mas talvez será a história
De uma palavra sem glória
Que de dúvidas e incertezas nasce
Que tanta gente fez já querer se cruzasse
Mas talvez não será mais
Talvez ainda não seja tarde de mais