sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Anonas, Líchias

São todas delícias

Mas há um amargar

de senciência invulgar

Que todos pudemos experimentar

Azeda é alma

Tão acre que não acalma

Tão fria que nem arrefece

Tudo estranho acontece

E são delírios

E horas fatídicas

E são cópias iguais

De uma vida empírica

Em que nós todos animais

Não sabemos é quais

Nos devemos cuidar

Mas a vida não é feita de dragões

Fadas e ilusões

É o doce abismo

Do oportuno olhar

Olha, vê

Não vale a pena, para quê?

Arrependimentos não fazem os momentos

Momentos fazem arrependimentos

Momentos de tristeza

De animal abandonado

De ser solitário...

Coitado, pobre coitado...

Porquê ser a oitava cor do arco-íris se só existem sete?

Tentar ser farol onde lado nenhum nos remete

E ainda assim não conseguir estar

Não deturpar não lacerar um fulgurante vislumbre

Uma dor de lume

Chorar na alma o que na vida nos atormenta

Fazer do combater a nossa ferramenta

O sol não nasceu? paciência.

A lua não brilha? paciência.

Mas não é esta a mesma luz que os dois astros alimenta?

Talvez ainda seja fácil ter esperança

Talvez não

Talvez ainda possamos caminhar despreocupados

Talvez não

Talvez haja maneira de ter nova ideia

Talvez não

Mas talvez será a história

De uma palavra sem glória

Que de dúvidas e incertezas nasce

Que tanta gente fez já querer se cruzasse

Mas talvez não será mais

Talvez ainda não seja tarde de mais


Falemos das árvores

que não têm pensamentos

De onde virão seus preciosos rebentos?

Uns dirão foi Deus a pensar

Outros a natureza, se calhar

Mas nunca pensar foi sua vontade

E crescem raízes, ergue-se o tronco e folheia-se a sombra

E tudo mexe, tudo cresce,

até que tudo tomba

Será do seu tempo

tão pesar tombar?

Ou foi a árvore a pensar?

Para quê ser-se árvore

Quando nas colunas de terra males estão

Quando nos céus doiram grãos de sol

E tudo o que é resume-se ao seco estar

De um Mundo fitar

Sem nenhuma compreensão

Vale a pena ser árvore?

Vales são profundos e o valer uma negação

Mostrar-se sem pudores

Sem desdenhar piores

Sulcos do coração

E tudo vem e tudo vai

Tudo seria se se quisesse

Tudo um dia se eu fizesse

São todos folhas

São todos côdeas do mesmo pão

Todos sim e todos não

Mas nunca árvores...

Pois estroina não é sua forma

Pois sensata é sua norma

E nós quem somos

nós que pomos

humilde fingir

Em modesta oportunidade...

Quem seremos nós de verdade?

Árvores não.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Parvo que sou

Como as tais trepadeiras despropositadas

Tudo é fingido e tudo é verdade

Tudo como dados da sorte

Tudo como claridade

E eis que vem

O que não devia vir

O aparecer de algo

O surgir

Outra verdade

Outro acontecimento

A justiça, o seu estabelecimento

Tão contente que estou, que não cabe meu contentamento

E continuo por aí

Em ironia rodoviária

Qual estrada que não leva a nenhum sítio, nada

É uma viagem diária

De bom samaritano

Ser Homem é ser insatisfeito,

É ser Humano

Por mais que o tempo mude

Não muda o que devia mudar

Nem para o bem de uns

Nem de outros, para variar

E dizem que sim

Como quem diz que não

Mentir por aí

Afirmando ter razão

E são crises e são unhas

E são vontades nenhumas

Tudo é despropósito

No atestar de um depósito

Falar sob as nuvens

De uma luz nunca vista

Dizer que ela é nossa

Ela é nossa conquista

Mas de nada é feito nada

E viver ao desalento

É dizer que não existe tempo

Deambular por aí

Pelas vielas da mediocridade

E dizer que sim, dizer que não

Dizer à vontade

Que são outras as certezas

É outro o coração

E daqui resulta

A nova oração:

Não é nossa...a culpa

Oh Fogo, castelo de areia em mim...manhã de inverno de curto seu raiar, gélido meu querer de tão vão que chega a nem ser...e saber que és...que prevês e realizas, qual o teu fim da chuva irmão, o fundo duro, o suave chão...sólida ciência teu surgir que nem na demência nos consegue impedir de procurar e te achar.